Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A ver...

Revendo fotos antigas
Te vi lá, em todas elas
Mania de revival
Doença da nostalgia
A moda sempre volta
E o que isso tem a ver
Com o sangue e a vontade de sangrar?
Com o sol e a necessidade de brilhar?
A vida dá voltas
E o que isso tem a ver
Com a paixão e a vontade de gostar?
Com a saudade e a vontade de lembrar?
Te vi nas fotos e teus sapatos
Estilo Dock Side
Que agora voltaram
Mas mudaram de nome
(agora é Top Side!)
O que os teus sapatos tem a ver
Comigo e a vontade de trilhar
Novos caminhos
E a necessidade de mudar
Os rumos do pensamento
Do coração, das atitudes
O que é que tem a ver?
O esmalte da moda
Da nova campanha
O que que isso tudo tem a ver
Com a manha
Que a gente finge que não faz
Pra segurar um rapaz
Entre as unhas???
Nada a ver.