Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Fall

Eu dormiria se fosse dia
E sonharia com folhas caindo em meu rosto
Como seus cabelos
Fim de tarde, sol partindo
Todos os sonhos se foram
Eu acordaria se fosse madrugada
Com o gosto de quem
Beijou o seu olhar antes de dormir
Despede e sai
Volta pra onde eu não vejo
Me escondo em sonhos
 Te encontro em lugar algum
 Fujo de mim
 me acho em estilhaços
 De coisas sem cor.
 Não sei o que é você
 Não sei como vivo sem mim
 Me partindo em pedaços
 E espalhando no jardim.