Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Prostituta

Sou uma prostituta
E me vendo fácil
Por qualquer pedaço
De ilusão...

Sou uma prostituta
E me entrego fácil
Por qualquer abraço
Por qualquer paixão...

Sou fácil, eu sei
Esperando afeto
E o que arquiteto
Não da certo no final...

Sou fácil, eu sei
Esperar carinho
E esse caminho
Nunca tem final...

Fatio os pedaços do coração
Mais bobo e mais carente
E eu já nem o tenho mais
E meu sangue parece dormente...

[Arranco meus próprios cabelos
Não adianta, ninguém escuta
Eu tento não cair, mas os apelos
Sempre saem-me pela boca
Atropelando minha parca inteligência.]

No final de tudo sempre acabo me sentindo
Como alguém que fica se prostitunido
Por simplesmente não saber ser só.

Parece que eu não me amo
Parece que sempre me engano
Parece que eu procuro dó.

Não quero mais ficar nessa
Não quero mais ter pressa
Pra me apaixonar.

Eu acabo sempre presa
Destruindo a surpresa
Do sabor de ser normal.

2 comentários:

  1. Somos existenciais por natureza..."Por simplesmente não saber ser só" boa definição... solidão,vontade de sucumbir aos paradigmas,eis ai um grande mártir humano...enfim espero que esteja legal perpétua,derramei um pouco da areia brilhante que existe em minha alfaia, aqui em seus devaneios, e lendo os outros artigos do dia vi que está encantada com uma nova paixão, ou melhor paixonite... beijos

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  2. vou deixar minhas poesias antigas, se tu quiser analisar www.fotolog/felpys.com

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