Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Pressa

Não me faça esperar
Que meu corpo tem pressa
Meu sangue ferve e gela
Sem você aqui
Minhas funções vitais me abandonam
Sem tua voz ao telefone
Sem notícias, sem paradeiro
Chega logo que eu tenho pressa
Minha cabeça funde
Penso, onde estará
Porque não me liga
Meu coração tem pressa
Quer saber porque
Não estás aqui,
Batendo junto a ele
Não me faça esperar
Nem mais um minuto
Minha boca seca,
Sem tua saliva
Já não pode dizer palavra
Perdeu o sorriso
Não me faça esperar
Que eu não quero ficar longe
Nem mais um momento
Dos teus olhos , ressaca
Que me despem
Me fatiam
Me atravessam
Não aguento mais um dia
Longe das mãos que me prendem
Os ombros
Os flancos
Os sonhos
Não aguento mais estar distante de
Quem sou
Diante de você.


Transversal

Moro no teu cheiro
Teu aroma é minha casa
Quero dormir e acordar
No aconchego
Quero viver nesse intervalo

Vivo no teu perfume
Teu cheiro é o que me faz caçar
Quero fremir, extasiar
No aconchego
No intervalo do teu pescoço
Encontrar a fonte...

Teu cheiro é meu lar
Quando o detecto
Sei que estou em casa
Esse sabor, eu provo e tomo
E eu sei que estou segura.

Minha perdição é teu aroma
E quando ele me invade
Sei que estou em perigo
Esse perfume, eu provo e tomo
E eu sei que ele é meu veneno.

Vivo entre o ser e o estar
Me confundo entre o estar e o ter
Sofro de uma ambígua felicidade
Que me faz doer .
Nem a paz que alenta
Nem a tentação que condena

Sou a brasa que arde
Sou o fole que assopra
Estou sempre precisando ser salva
Estou sempre querendo ser livre
Tenho vontade de ficar onde estou
Tenho ânsia de buscar outras vidas.

Esta não é uma guerra entre vocês
Nenhum dos dois é tão especial.
Essa guerra é minha
O conflito é todo meu
Eu criei esse embate
Esta distancia que percorro
Entre o que sou e o que quero ser
Não se trata de quem sois
Trata-se do que preciso

O que preciso e não tenho
O que tenho e não quero
O que quero e não preciso

Estou paralela a mim
Eu me atravesso
Eu me extravaso

Eu não posso mais caber em mim.

Ensaios

De que adianta te perseguir
Se o melhor acontece
Quando você me liga
De surpresa
No meio da tarde
Preenchendo o silêncio
Com meu nervosismo?

De que adianta
Tanta ansiedade, tanto ensaio
Se o melhor sempre acontece
Assim, naturalmente,
Sem treinos, sem rodeios
Desenrolando essa história
Apertando certos laços...

Não adianta nada
Essas conversas quem tenho na minha mente
A hora que eu olhar nos teus olhos
Vou esquecer o que decorei...
Teu sorriso ainda me tira o ar
E esse ensaio, era só pra não ficar
Sem verbo outra vez.

Não adianta querer encenar
Fazer de conta, dar a volta
Eu não sei jogar, não dá pra fingir
Quando me olha desse jeito
Eu perco todo o latim.
Logo eu, tão eloquente
Tão despojada, tão espontânea...
Não é justo isso de ficar suando frio,
Calculando gestos,
Medindo palavras...

Não vai adiantar
Meu coração não aprende
A não se arreganhar
E mandar uma enxurrada
De confissões
Inconfessáveis
Pela boca afora.
Meu cérebro filtraria esse rompante
Se não estivesse em pane
Tentando decifrar
Os teus sinais...

Não tem jeito, não vai dar pé
Nosso destino, eu já sei qual é
Eu vou continuar com essa cara
De quem ainda tá parada na pista
Te esperando voltar.
Parece ausência de amor próprio
Mas é só teimosia,
É mania de deixar a porta entreaberta
Então, desculpe se a palavra certa
Não sair direito no final.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

"só mais um shot
só mais um trago
só mais um baque
só mais um
só mais...
só..."

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Por você...


Por você,
Vou ficar mais 5 minutos no banho
Vou dar pinceladas de rímel a mais
Vou borrifar um pouquinho mais de perfume...


Por você
Vou soltar aquele sorriso
Vou usar aquele vestido
Vou ousar aquele batom...

Por você
Vou usar algum salto
Te tomar de assalto
Vou correr velhos riscos...

Por você
Eu mergulho
Engolindo o orgulho...
Olvidando promessas...

Quantas coisas eu já fiz
Por você
Sem você saber?!?