Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Olimpo

Eu quero saber por onde andas 
Por onde tens passado 
Quero saber onde vais 
Com quem sais 
Quero saber de ti 
Com a fome e ansiedade inversa 
À preocupação que dedico a mim mesma 
Quero saber o que te faz sorrir, 
 O que te faz sonhar 
Quero sobrevoar 
A cachoeira do teu orgasmo 
E a imensidão do teu peito 
Cavalgar, amazona desgarrada 
Escrava de um ingrato amor 
Quero mergulhar 
Na mansidão dos teus braços 
Saber o que te faz forte 
Afundar na maciez 
 Do teu sorriso 
Saber o q te faz narciso... 
Me perder no brilho de estrela 
Que me ofusca, que vem dos teus olhos 
Entrar nessas janelas 
E acordar em outros Olimpos... 
Me afogar 
Na saliva doce que me atiça 
 E mata a sede 
Descobrir o que te faz 
 Tão verde... 
Quero saber por onde andas – 
 É por lá que quero andar também 
E por onde tens passado 
Pra passar por lá com quem 
Anda ao teu lado 
e faz humano e sagrado 
Quero saber de ti 
Pra não me perder mais de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário