Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Girassol

Aceito q sejas meu Sol
De ti vem toda minha luz...
Tu me aqueces,
Tem noites q me incendeia
Mas por vezes te caço
Até o dia raiar
Em sonhos e convulsões
Aceito e percebo
Que és meu astro rei
Mas me custa acreditar
Que sou a Lua
Dói-me pensar q cruzaremos
Os céus pela eternidade
Sem nunca nos encontrarmos...
Não aceito, não aceito...
Não quero ser a Lua!!!
Eu queria qualquer coisa
Que me fizesse tua
Não quero ser quem ilumina
Pela noite a fora
A rua escura
Quero a tua luz, quero tua luz...
Meu Sol, meu calor, minha Luz...
Porque te afastas, não aceito!
Sigo ferida aqui no peito
Sigo sem me reconhecer
Sendo a Lua a se esconder
De tristeza e desilusão
Tenho inveja dos planetas
Que giram sempre ao teu redor
Tenho raiva de mim mesma
E essa dor eu sei de cor
Não aceito ser tua Lua, meu Sol,
Não aceito outra noite
Sozinha em meu lençol...
Não aceito essa solidão...
Estrelas tão distantes q sequer
Me emprestam o brilho...
Meu Sol, meu Sol...

Meu motivo...

"Knocked Up"

"Eu não ligo para o que os outros dizem
Eu vou ter um bebê
Quebrada e cheia de dívidas
Minha mãe tentou me ajudar
E alguns amigos tentaram me julgar
Algumas pessoas acham que eu vivo delirando
Mas minha rotina não tem espaço pra preguiça
Batalhando como um guerreiro solitário
Às vezes vencendo, às vezes vencido
Como um bêbado sóbrio...
Mas confesso que nem sei pra onde estou indo
Fingindo não estar perdida
Ninguém mais vai amar esse bebê como eu
Não é egoísmo, mas ele será só meu
Eu estou detonada
De calças curtas, com a cara suja
Caçando um rumo, como uma renegada
Em meio a essa cidade estranha...
Arrepiada de frio, barriga roncando
Mas eu não ligo pro que eles dizem
E vou ter esse bebê...
Eu não me importo com o que minha mãe diz
E mesmo falida, cheia de dividas,
Eles só querem me rotular..."

Escrevi essas linhas ao som de "Knocked Up" - Kings of Leon, durante a gestação do Miguel, meu segundo filho.
Apesar das dificuldades, apesar de toda a tormenta, em nenhum momento me arrependo de ter confiado na alegria da tua existência, filho!

Restos

Desisto dos meus nervos
Meus músculos entregues
Estão arrastando no chão...
Meu cérebro foi parar no estômago
Minha barriga está inchada como um balão...
Desisto dos meus pés cansados
Eles não agüentam mais andar
Minhas pernas perderam o rumo
Não mais me levam
A nenhum lugar...
Meus olhos cansaram
De ter lágrimas como pálpebras
E pálpebras pesadas de tristeza e solidão
Minha boca perdeu o verbo
De tanto repetir teu nome
Meu sorriso se foi
Como quem tivesse perdido a dentadura
Meus ouvidos não registram mais nada
Do que eu deveria ouvir
Alheia e morta
Dentro de um saco de ossos
Pretensamente vivo...
Isso não é vida
Meu coração dissolveu
Dói o buraco que ficou...
É a única dor q realmente dói
E ninguém, ninguém no mundo pode ver
Ninguém, exceto você
Poderia curar...
Meu espelho embaçou
Se recusa a me deixar mais triste
Em refletir o que sobrou de mim no chão...
Então, tenha um bom dia
Só liguei pra saber como você está...
Eu continuo aqui
Morrendo sem você voltar
Definhando de uma saudade
Sem jeito
Sendo engolida por um buraco negro
No peito
Desaparecendo de ciúme e
Despeito
Seja feliz como você escolheu,
Eu respeito
Os restos de amor que me atira
Eu rejeito
Chega de morfina
Chega de mentira
Quero abraçar minha lápide meu travesseiro
E ser esquecida como a grama

Que você adora  pisar.

Final de novela

Você parte
E me sobram as lembranças
Teu travesseiro
Teus discos
E teu perfume no ar
Você vai
E tudo perde a cor
E nada faz sentido
Ficam só os restos do nosso amor
Algumas marcas
Na alma e no lençol...
Quem disse que amar não é ridículo?
Se quando você se vai
Me sobra o ciúme
A incerteza de você voltar?
Me resta ser brega
E chover no molhado
Me resta essa cara
De quem comeu e não gostou
Me resta ligar
E a você
Não atender...
Me resta torcer contra
Me resta ser ridícula
Com esse gosto que sobrou
Com essa moda que ficou
De algumas gerações atrás...
Me resta ser romântica
Como alguém que já foi Hilda Furacão
E hoje tá mais pra Hilda Tibiriçá
Me resta torcer pra você voltar
Me resta esperar pelo final feliz
Daqueles q só novela tem
Mas a piada perdeu a graça,
Não consigo acreditar
Que essa espera será de graça
Perdendo o ritmo
Perdendo o riso
Perdendo o Oscar

Da personagem principal...

Silêncio

O silêncio dessa casa
Ainda insiste em dizer seu nome
Bom, ao menos
Ele não grita mais...
Logo em breve ele se cala
E o vazio estéril e gelado
Da ausência tua
Vai tomar conta de mim.
Bom, ao menos
Ainda restará uma companhia
O vazio
Dança ao meu redor
Ri seu riso gelado em minha cara
Assopra de leve minhas orelhas
Bom, ao menos
Alguém se lembrou de soprá-las...
Amanhã tudo isso passa
Amanhã eu serei forte
E depois de amanhã mais forte ainda
Mas hoje não.
Guardei o dia de hoje
Pra velar teu luto
O luto de um amor que nunca
Foi um amor completo
E que morreu estrebuchando
No vulcão das circunstâncias
Só hoje estou de preto
E guardo no teu travesseiro
As últimas lágrimas de lamento
Amanhã não lamentarei mais
Não direi palavras amargas
Não me arrependerei do que eu fiz
Mas hoje não
Guardei o dia de hoje
Pra me arrepender de cada momento
Pra fazer a Mea Culpa
Pra carregar a responsa comigo
Desse amor que se acabou
Antes mesmo de começar
Amanhã eu vou sorrir
Sem a tristeza de quem ri pra não chorar
Sem a obrigação de parecer forte
Sem a pretensão de esconder que errou
Mas hoje não
Guardei o dia de hoje
Pra poder chorar
Não por estar fraca, nem por ter errado
Chorar de amor, chorar de dor
Chorar meu fracasso
Por que amanhã eu aprenderei
E serei alguém melhor
Amanhã não serei triste

E amanhã poderei ser forte.

Não discuto

não discuto com o destino o que pintar eu assino (Leminski)