Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Restos

Desisto dos meus nervos
Meus músculos entregues
Estão arrastando no chão...
Meu cérebro foi parar no estômago
Minha barriga está inchada como um balão...
Desisto dos meus pés cansados
Eles não agüentam mais andar
Minhas pernas perderam o rumo
Não mais me levam
A nenhum lugar...
Meus olhos cansaram
De ter lágrimas como pálpebras
E pálpebras pesadas de tristeza e solidão
Minha boca perdeu o verbo
De tanto repetir teu nome
Meu sorriso se foi
Como quem tivesse perdido a dentadura
Meus ouvidos não registram mais nada
Do que eu deveria ouvir
Alheia e morta
Dentro de um saco de ossos
Pretensamente vivo...
Isso não é vida
Meu coração dissolveu
Dói o buraco que ficou...
É a única dor q realmente dói
E ninguém, ninguém no mundo pode ver
Ninguém, exceto você
Poderia curar...
Meu espelho embaçou
Se recusa a me deixar mais triste
Em refletir o que sobrou de mim no chão...
Então, tenha um bom dia
Só liguei pra saber como você está...
Eu continuo aqui
Morrendo sem você voltar
Definhando de uma saudade
Sem jeito
Sendo engolida por um buraco negro
No peito
Desaparecendo de ciúme e
Despeito
Seja feliz como você escolheu,
Eu respeito
Os restos de amor que me atira
Eu rejeito
Chega de morfina
Chega de mentira
Quero abraçar minha lápide meu travesseiro
E ser esquecida como a grama

Que você adora  pisar.

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