Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Silêncio

O silêncio dessa casa
Ainda insiste em dizer seu nome
Bom, ao menos
Ele não grita mais...
Logo em breve ele se cala
E o vazio estéril e gelado
Da ausência tua
Vai tomar conta de mim.
Bom, ao menos
Ainda restará uma companhia
O vazio
Dança ao meu redor
Ri seu riso gelado em minha cara
Assopra de leve minhas orelhas
Bom, ao menos
Alguém se lembrou de soprá-las...
Amanhã tudo isso passa
Amanhã eu serei forte
E depois de amanhã mais forte ainda
Mas hoje não.
Guardei o dia de hoje
Pra velar teu luto
O luto de um amor que nunca
Foi um amor completo
E que morreu estrebuchando
No vulcão das circunstâncias
Só hoje estou de preto
E guardo no teu travesseiro
As últimas lágrimas de lamento
Amanhã não lamentarei mais
Não direi palavras amargas
Não me arrependerei do que eu fiz
Mas hoje não
Guardei o dia de hoje
Pra me arrepender de cada momento
Pra fazer a Mea Culpa
Pra carregar a responsa comigo
Desse amor que se acabou
Antes mesmo de começar
Amanhã eu vou sorrir
Sem a tristeza de quem ri pra não chorar
Sem a obrigação de parecer forte
Sem a pretensão de esconder que errou
Mas hoje não
Guardei o dia de hoje
Pra poder chorar
Não por estar fraca, nem por ter errado
Chorar de amor, chorar de dor
Chorar meu fracasso
Por que amanhã eu aprenderei
E serei alguém melhor
Amanhã não serei triste

E amanhã poderei ser forte.

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