Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Blues

Gosto de sentir essa tristeza           
Gosto desse gosto blues
O dia nasce cinza e eu
Não me pergunto porque.
Apenas solto meu peso
Na leveza do silêncio  e...
Me entrego à melodia
Doce-aguada da melancolia
Ruídos preenchem o vazio
E eu não me pergunto porque...
Solto o olhar pelo espaço
Meus olhos vagueiam a esmo
Pelos móveis e janelas
Tudo está em paz
Tudo está por um triz
Em mim
Eu nunca estou inteira
Me acostumei aos pedaços
Cacos de coisas
Que talvez nem sejam mais...
E eu me acostumei
A não perguntar porque.
A presença tão fugaz
Do teu encanto
Teu espanto
Durou um segundo
E deixou um buraco
Que nada vai fechar
Eu sei, vou seguir
A vida vai continuar
Mas se tu me ver por aí
Se vir alguma tristeza no olhar,
Não se pergunte porque.



Nenhum comentário:

Postar um comentário