Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Qualquer coisa

No lusco-fusco
Desse dia que não amanheceu
Dessa chuva que não choveu
Dessa tarde que se arrastou pela manhã
Avessa
Adentro
Esse peso todo pairando no ar
Um silencio abafado me conta
Das coisas que quero saber
Tudo são perguntas
E a brisa se nega a fornecer respostas
A ouvidos surdos como os meus.
Que vida esquisita. Quanta coisa estranha
Não sei mais de ti
Dela
Do fim
De mim
Não sei mais
Sobre dias e noites e
Calores e gelos
Não sei mais sentir
Não sei mais ser
Minha
Angustia
Ferida
Não sei mais olhar
Amar
Esperar.
Quero que tudo se foda.
Não vamos sair dessa vida
Vivos, de qualquer forma.
Qualquer coisa

Pode ser o que invento.

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