Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 22 de março de 2011

Caça-Palavras

Te caço em palavras
Mas palavras cruzadas
Nunca me trazem respostas...
Sou dama em seu xadrez
Mas quando estou em xeque
Quase nunca blefo...
Sou sua dama de ouros
E você finge ser o valete
Mas eu sei, você é meu rei de espada!
De noite, esconde-esconde
Você finge que tem pique
E eu que sou café-com-leite
Você sabe q somos
Zebras que nunca dão
Você é o azarão
E eu sou a teimosinha..

Ser Mãe - Por Débora Lee

Ser mãe – por Débora Lee
Não ligo de beber no almoço
O resto do seu suco do café
Tua boquinha esteve lá...
É maravilhoso entrar numa
Loja de brinquedos com dinheiro
Fazer teus gostos é um tesão
Que não eu explico
Mas também dou valor à
Nossa dureza, filhão...
Esquecer de mim por você
É um tesão que não explico.
Suas mãozinhas no meu rosto
Antes de dormir
Um cafuné tão puro
E desinteressado
Que eu jamais imaginei
Provar desse sabor...
Você me pede um irmãozinho
E eu tento explicar que não é assim
Já é foda ser pai e mãe
Eu quase enlouqueço...
Ser mãe é um tesão
Que eu não explico.
Filho... você existe aqui
E dá sentido a tudo,
Obrigada por me escolher!
Agora, vê se desliga essa TV
Que ta na hora de dormir
Que o teu anjo dourado
Te leve aos sonhos bons
Na tua fofura de nuvem branca
Dormem os meus sonhos
Na tua doçura de criança
Os meus mais puros desejos
Tua pureza
Meu futuro
Doce criança...
Durma em paz
E acorde no amanhã
De nossas vidas.
Te amo.

(poema dedicado ao meu filho Raul)

Brechas

“... não sei por que nessas lacunas vejo seu olhar...”

Manchas e cortes
Rachaduras e espaços
Vejo você nas menores brechas
Do tempo que me atravessa
Como uma agulha fina

O que me remete a você
Geralmente me afasta de mim
Mas não me importo de ser você
Não ligo de ficar sem mim
Seio, passeio, recreio
Algumas nuvens de receio
Arrepio, assobio
Disfarço outra vez
Camas e lençóis e travesseiros
E preguiça, olhos pesados
Vontade, vontade, vontade
É verdade, não sei mais dizer não
Uma brecha, uma flecha
No meio do coração
Não tenho culpa,
Só tesão
Quartos e salas
Ruídos distantes
Longe do nosso universo
Só me provam que ele é hermético
E doce e lúdico e prático
Meia lua, meia luz
Vida inteira
Quero te amar
Até o tempo parar.

Débora
14:07h – 15/10/2010

Tudo mudou...

Tudo mudou
Rápido demais
O mundo estancou
E eu fiquei pra trás
Tentando te encontrar
Em meio à confusão
Tentando não pensar
Que tudo foi em vão
Acordo em sobressalto
Respiro com dificuldade
A verdade toma de assalto
E não acredito na realidade
Se tudo é pesadelo
Pra onde foram os sonhos meus?
Sozinha com meus medos
E sem os olhos teus
Perdida em meio ao nada
De tudo o que sobrou
Continuo calada
E não sei mais quem eu sou.

Débora
11/01/2011 - 12:00h

terça-feira, 15 de março de 2011

Vem

Vem, porque eu sou tua
Toma minha carne crua
Mastiga com os dentes de tu’ alma
Porque quando você me acalma
Sei que és irmão gêmeo meu
Sei que quando o mundo for um breu
Vou recordar dessa oração
Corpo, alma e coração
Pois lembrarei que não estou sozinha
Tua alma, irmã da minha
Vai estar ao meu lado
E me abraçar
Seguir ao meu lado até tudo passar
Vou fechar os olhos, prosseguir nesse mundo
Esperando o momento do despertar profundo
Esperar tua vez de se libertar
Vou estar aqui, vou te receber, vou te amar
Vou ser bem feliz, esperando você voltar.

Parada na pista

Pra q eu vou me encher de cremes
Se você não vai mais me amassar?
Pra que perfume
Sem você pra me cheirar?
Roupas lindas sem suas mãos
Pra me despir?
Maquiagem, batom vermelho
Sem seus beijos pra borrar?
Se era debaixo de você
Que me sentia “por cima”
Era entre seus abraços
Que eu me sentia livre
Era me embolando em você
Que me sentia linda
Gostosa e impossível…
Era tudo pra você
Tudo pra encher seus olhos
E esvaziar o teu latim
Tudo pra provocar teu
Sorriso sacana, menino
Alguma renda pra fazer surpresa…
Tantos brincos, colares, pulseiras
Sem nossas farras pra perdê-los
No carro ou na cama
Pra mim nada mais faz sentido
E sei que estamos vazios
A música parou
E me encontrei sozinha na pista
Segurando teu copo
Esperando você voltar…
Esse salto não tem mais
Razão de ser
Não quero q me vejam
Por aí sem você
Perdi metade do que eu tinha
E tudo do que eu era
Mas continuo à espera
Perfume vencendo, make borrando
Pérolas falsas descascando
E rendas brancas amarelando
E todo gelo do copo já derreteu
Acenderam as luzes e a
Balada acabou... mas ainda espero.

Débora
25/12/2010

Fênix

“... e todo dia quando eu acordar
Eu vou querer saber
Que pedaço é esse que me falta
Que não me deixa esquecer…”

Não é nada
É só um Tsunami contido.
É que de vez em quando, transborda.
É só água e sal
Que fazem parte de mim
Um pouco de tristeza
E de desilusão.
Bastante dor, bastante amor
... coisa que não dá pra guardar.
Ao meu lado, você dorme
Eu só queria um jeito de te acordar
E dizer o quanto é ruim
Te ver sem poder tocar
Eu juro, não to agüentando…
Fora de mim, a noite em claro
E noite adentro a escuridão
Tomou conta de mim
Lágrimas… elas secam
Ás vezes marcam o lençol
E sempre marcam a alma
Daria tudo em troca de um carinho teu
Como eu posso conviver
Com essa realidade
Sem enlouquecer?
Ver a luz do sol beijar
Tua pele morena, o dia raiando
E morrer de inveja
Do astro-rei?
Como posso ver seu pescoço
As marcas do dia anterior
E não sentir raiva de mim
Por tudo se perder assim?
Você diz que eu te tive nas mãos
Acho que talvez, nos braços
Mas você sempre voou mais alto
Do que eu podia alcançar
Com minhas asas de cera
Minha fênix…
Voou, voou… foi pra longe
E de tudo eu sou as cinzas,
Nada mais.
Nada do que eu fui
Sobrou de mim.
Mentira: sobrou sim:
As marcas de choro
Nos teus lençóis.

Agora você...

Agora você
Pode até vir me dizer
Que não gostava de ficar
Todo sujo de batom
Pode até falar
Que eu perdi o tom
Mas eu acho que você
Adorava meus agarros
Quando eu te atiçava
Dentro do teu carro
Quando te pedia pra parar
Em qualquer rua escura
E do meu jeito de te devorar
Sem nenhuma frescura
Você nega, mas eu sei
Que você sente saudades
Do jeito q eu te abraço
E de te fazer massagem
Eu sei q você pensa
Mas se nega até o fim
Toda vez que se deita
Você se lembra de mim
Lembra do meu corpo
Quente, te procurando
Das tuas pernas nas minhas
Do nosso corpo suando
Das nossas gargalhadas
De curtir a noite inteira
Do meu jeito carinhoso
Da minha mania festeira
Eu sei, você pensa
Mas nem queria
Porque não compensa
Desperdiçar tanta alegria
Com lembranças tão pequenas
Mas eu sei e você sabe
O q que nós dois sabemos
É q nada se perde
E que nada foi pequeno
Quem sabe algum dia
Você resolva gastar
Mais um pouco de euforia
No meu peito a sufocar
Quem sabe desiste
De ser tão duro comigo
E também desiste
De ser tão duro consigo
Porque quando eu te ver
Vai ser sempre assim
Eu alucinada por você
Você não resistindo a mim.

Débora
21:02h – 28/fev/2011

Canção de retorno para uma amiga à infância

Se lembra de quando queríamos ser
Como nossos ídolos?
Se lembra quando a gente acreditou
Que podia ser feliz
Andando com as próprias pernas?
Se lembra quantas vezes
Fizemos e desfizemos sonhos
Fizemos e desfizemos planos
E jogamos tudo pro alto só em pensamento?
Se lembra do meu sorriso,
Se lembra das nossas fugas?
Se lembra quando nos arriscamos
Por tão pouco?
Se lembra, ao voltar da escola
Cantando como loucas,
Se lembra do que a gente sentia?
Se lembra de cada abraço
De cada desabafo,
De cada revolta?
Se lembra de quantas vezes nós achamos
Que mudaríamos o mundo?
Se lembra quando queríamos
Esquecer de onde viemos,
Esquecer nosso passado?
É uma pena que o mundo não saiba
O quanto nós quisemos mudá-lo.

Débora
27/06/2002

Esquinas

Das feridas que ficaram
Às cicatrizes que virão
Te sinto em cada corte
E te vejo em cada vão
Sobrevôo o infinito
Toda vez que você volta
E de tudo o que é bonito
Só me sobra o que recorda
Teus cabelos nos meus dedos
Teu perfume em minhas narinas
Você parte e ficam os medos
E lembranças pelas esquinas
...continua...


Débora
21:49h
12/03/2011

Minha fé

Tenho vivido dias de luta –
Às vezes, batalhas secretas
Que quase ninguém vê

Tenho vivido dias de força –
Às vezes uma força impensada
Que nem imaginei ter

Tenho vivido dias estranhos –
Às vezes quase insanos
Que eu nunca imaginei viver

Tenho vivido um pouco triste –
Mas fingindo alegria
Pra me acostumar

Tenho vivido um pouco tonta –
Mas fingindo equilíbrio
Pra não me perder

Tenho vivido um pouco sozinha –
Mas considerando a companhia
Que logo vai me amar

Eu preciso de força
Eu preciso lutar
E mesmo tudo parecendo estranho
E mesmo me entristecendo ou sentindo só
Ainda preciso de equilíbrio
Ainda me falta saber amar
E por mais esquisito que tudo pareça
Eu tenho vivido dias de fé
Fé que não me deixa
Desistir de chegar.

Perdas e danos

Perdi a graça
Perdi o verso
Perdi o resto
Da minha lucidez
Perdia a vontade
Perdi o apetite
Perdi um convite
À minha viuvez
Perdi todo o senso crítico
E um punhado de ilusões
Perdi a trama, perdi o ritmo
E assassinei uns corações
Me perco em palavras vazias
Perdi o latim, perdi a voz
Perdi um bocado do q eu tinha
Perdi o rumo dos meus passos
Perdi o prumo, perdi espaço
Perdi o esquecimento de quem eu queria
Perdi a confiança de quem não devia
Me perdi, me perdi
Não sei mais pra onde vou
Perdida em meio ao dia-a-dia
Perdida em meio ao furacão
Me sinto só, perdendo tanto
Perdendo os dentes,
Perdendo o encanto
Perdi o resto do que eu era
Perdi você, pra mim já era.
Me pergunto quando
Vou aprender a perder
Por que às vezes luto,
Tentando vencer
Vou ver se perco essa mania
E assumo de vez q nasci pra perder.


Débora
20:18 h
10/03/2011

Valsinha em sol maior

Eu tentei cantar, mas desafinei
Tentei te contar, te fazer saber
Que você é tudo o que quis pra mim
Parece absurdo te amar assim?

Eu tentei rimar, mas perdi o tom
É porque amar me parece bom
E não é difícil te querer assim
Todo amor do mundo vai caber em mim.

Insisto e falho, mas é tão normal
Afinal, amar, parece sempre igual...
Ser careta e brega, vai ser sempre assim
Se essa moda pega não vai ter mais fim...

10/2010

Fundo de Taça

Não é possível
Não pode ser
Deve haver em algum trago
Em alguma bebida
Uma saída pra te esquecer...

Um gole, um fundo de taça
Alguma coisa que me faça
Parar de pensar em você...

Mas deve haver algo que me aqueça
Algo que faça com que eu te esqueça
Algo que me impeça de querer...

09/2010