Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 15 de março de 2011

Canção de retorno para uma amiga à infância

Se lembra de quando queríamos ser
Como nossos ídolos?
Se lembra quando a gente acreditou
Que podia ser feliz
Andando com as próprias pernas?
Se lembra quantas vezes
Fizemos e desfizemos sonhos
Fizemos e desfizemos planos
E jogamos tudo pro alto só em pensamento?
Se lembra do meu sorriso,
Se lembra das nossas fugas?
Se lembra quando nos arriscamos
Por tão pouco?
Se lembra, ao voltar da escola
Cantando como loucas,
Se lembra do que a gente sentia?
Se lembra de cada abraço
De cada desabafo,
De cada revolta?
Se lembra de quantas vezes nós achamos
Que mudaríamos o mundo?
Se lembra quando queríamos
Esquecer de onde viemos,
Esquecer nosso passado?
É uma pena que o mundo não saiba
O quanto nós quisemos mudá-lo.

Débora
27/06/2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário