Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

terça-feira, 15 de março de 2011

Fênix

“... e todo dia quando eu acordar
Eu vou querer saber
Que pedaço é esse que me falta
Que não me deixa esquecer…”

Não é nada
É só um Tsunami contido.
É que de vez em quando, transborda.
É só água e sal
Que fazem parte de mim
Um pouco de tristeza
E de desilusão.
Bastante dor, bastante amor
... coisa que não dá pra guardar.
Ao meu lado, você dorme
Eu só queria um jeito de te acordar
E dizer o quanto é ruim
Te ver sem poder tocar
Eu juro, não to agüentando…
Fora de mim, a noite em claro
E noite adentro a escuridão
Tomou conta de mim
Lágrimas… elas secam
Ás vezes marcam o lençol
E sempre marcam a alma
Daria tudo em troca de um carinho teu
Como eu posso conviver
Com essa realidade
Sem enlouquecer?
Ver a luz do sol beijar
Tua pele morena, o dia raiando
E morrer de inveja
Do astro-rei?
Como posso ver seu pescoço
As marcas do dia anterior
E não sentir raiva de mim
Por tudo se perder assim?
Você diz que eu te tive nas mãos
Acho que talvez, nos braços
Mas você sempre voou mais alto
Do que eu podia alcançar
Com minhas asas de cera
Minha fênix…
Voou, voou… foi pra longe
E de tudo eu sou as cinzas,
Nada mais.
Nada do que eu fui
Sobrou de mim.
Mentira: sobrou sim:
As marcas de choro
Nos teus lençóis.

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