Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Bem-Casado

Porque todas as canções bregas deviam

Levar seu nome no título

Esse sentimento velho e rançoso

Essa dor sem graça que não passa mais...



E todas as canções que falam

De dor de cotovelo, que ridículo!

Essa vontade velha e teimosa

Esse desejo sem graça que não passa mais...



Porque quando olho você e ouço

Violinos como canções velhas

De velhas cantinas italianas

E isso é muito brega!



Esse arrepio que dá é démodé

E ficar de paquerinha já não rola

Achei que você pudesse ver,

Mas ambos concordamos: que cafona!



Eu esperava que você pedisse minha mão

Bolo e champanhe no noivado

Véu, grinalda e uma procissão

Carros cheios de lata, buzinasso

Para celebrar a comunhão.



Mas chuva de arroz é convencional

Demais pra nós dois

E ficamos assim, com essa cara

De assunto pelo meio

Esperando o recheio

Do docinho bem-casado.

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