Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dias Estranhos IV

Dias estranhos
Em que me perco
Entre o seu e o meu
Entre noites e dias
Estranhos, apenas...
Dias estranhos
Em que me confundo
Entre os defeitos seus
E os defeitos meus
Apenas dias e noites estranhos...
Estranhos dias em que
Procuro motivo, um culpado
E são estranhos os dias
Em que encontro você.
Apenas estranhos modos.
Estranhos dias em que
Me culpo por tudo parecer
Tão estranho
Dias e noites estranhos
Seguindo, cotidiano raso
Um mergulho no escuro
Obscuro dia-a-dia previsível
Ou talvez... não seja
Tão previsível assim!
Dias estranhos em que
Me questiono
Como vim parar aqui?
E no fim são só
Estranhos dias.

Nenhum comentário:

Postar um comentário