Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dias Estranhos III

Dias estranhos
Em que me lembro de quem fui
Estranhos dias em que me transformo
E sinto a corrosão dos ventos novos
Mudando tudo de lugar
Dias estranhos estes
Em que tento apagar
As mentiras do passado
E escrever uma história diferente
Tento brincar de Deus
E fazer um ser - humano novo
Me modificando,
Modificando meus modos
Nesses estranhos dias...
Dias estranhos nos trazem
A fria brisa do Outono
Em mais um final de Verão...
Estranhos dias de Março que se repetem...
Dias estranhos de uma estranha rotina
A qual eu nunca nunca nunca
Nunca imaginei pra mim
Estranho estranhar tranqüilidade,
Quietude e esperança em mim,
Já que o “novo eu” me faz tão bem!
Estranhas canções no rádio,
Nesses dias estranhos
Me fazem perceber que estou
Ficando velha
Estranhos dias em que envelheço
Mas são apenas dias estranhos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário