Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Íntimo

Nada tão íntimo quanto invadir
Pensamentos assim, no meio do dia
Nada tão íntimo asssim
Como me ligar e mudar o dia
Nada mais íntimo.

Não pode existir intimidade maior
Do que morar dentro de mim,
Aproveitar disso e fazer o que quiser.
Não há de haver intimidade maior.

Quando olhei você pensei estar
Diante de meu espelho
Assombrei e espantei o véu mais fino
Agora estou nua
Jogada à deriva em um mar de
Possibilidades surreais
O relógio escorre quente e flácido
Escorrega por entre os cânions da mente
A mulher no horizonte é grave e solene
E está deitada como montes virgens e verdes.

O tempo corre num túnel
Nano-raios vertentes, luzes multicoloridas
Túnel para todos os lugares
E para lugar algum.

Imagens e sons desformes atravessam
O fio intrépido do pensamento
E você está lá, em todos eles.

Todos os fios, todas as cores
Todos os tempos e todos os túneis
Toda mulher e cada monte verde
Cada relógio e cada horizonte
Todas as luzes, raios e reflexos
A resposta é sempre o espelho
E eu sei,
O espelho é você.

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