Invernáculo

Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.

(Paulo Leminski)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Motivo

Fosse só procurar um motivo

Continuo no escuro, perdido

E se amar é mesmo abanar o rabo

Então, penso que não há nada errado

Quando abrimos o coração e deixamos

O outro com a vantagem dos planos

Que agora já não são mais segredo

E a ameaça equivale ao medo

De parecer um sonhador idiota

E se sujeitar à soleira da porta

Por qualquer capricho oportunista

Veja bem, essa é uma visão otimista

Pois só quem já amou pode saber

Como é estar totalmente a mercê

Não tenha pressa em querer provar

Esse gosto percorre os lábios, até encontrar

Randomicamente a boca de quem vai ficar.

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